segunda-feira, 12 de maio de 2008

Isso não tem a ver com games

Para extinguir o famigerado texto explicativo e de boas vindas (dependendo da popularidade do blog, esse post pode vir lá pelo meio..). =P

Chama-se "A sabedoria senil"



Consumismo também é cultura. Recentemente conheci um senhor lá pelos seus 60 e tantos anos na fila da C&A - mas nada que atrapalhasse sua altivez e pré-disposição a fazer compras numa moda jovem, viu. De aparência humilde, ele tinha um quê independente, de quem não se deixava abalar. Reparei no boné escrito “bombril” e ele mais parecia um vovô no volante. Sim, meu namorado adora terceira idade motorizada, o que já foi motivo de abobalhamento nosso em uma sorveteria, lembrança boa. Fiquei imaginando que poderia ser um vv Opala ou Belina, e quando me dei conta já estava tomada da atmosfera de empatia pelo velho. E não é que o danado puxou conversa comigo, coisa de dez minutos?

- Essa loja, é até bonitinha, mas peca em atendimento. Eu já fiz tanta coisa na minha vida, sabe minha filha? Tenho dois filhos, peguei um de rua pra criar. Moro lá em Camaragibe. Então eis que venho eu, para essa loja (e te digo, coisa de outro mundo), que tem tudo pra dar certo, e olhe só, essa roupa eu vou levar agora. Pena que não posso dizer o mesmo da insatisfação para chegar até ela. A começar por esse balcão. Por que isso? Um balcão no meio da loja? As pessoas não podem se movimentar, as atendentes estão dispostas de uma forma que mais parece um preenchimento de carnê. Sem contar com a sinalização dessa loja, é péssima. Deveria estar num lugar mais reservado, talvez eles devessem explorar o espaço de melhor forma.

E eu, tímida, respondi:

- Você paga pelo acessório, mas também pelo atendimento. Com certeza você vai querer ter uma boa experiência quando chegar aqui, não é?

O tutor animou-se:

- Isso, minha filha! Imagine se houvesse algum tipo de estudo para isso, para observar as pessoas. Essas lojas enriqueceriam. Parece que não entendem o que é importante. O Brasil, o Brasil..

E continuou falando. Eles adoram conversar. E dizer coisas que valem à pena ouvir.

Engraçado, Sebastian, uma loja que traveste o slogan Abuse e Use, esquecer de seus usuários =P Imagina só uma etnografia na C&A que balaco-baco.

Quando ele foi embora, reparei que tinha um livro fino em mãos, coisa de empreendedor. Tentei me esgueirar para ler o título, mas não poderia também deixar de olhá-lo nos olhos e dizer um “muito prazer” bem forte. Tive vergonha de perguntar o seu nome, não ousei. Ele sabia demais e eu de menos.

E como se não valesse o título, acho que vou ler esse livro..

5 comentários:

Rafael Fernandes disse...

Parabéns pelo seu novo blog, amor!
Gostei muito do post, muito sábio o senhor da fila.

Que venham novos posts e mais conhecimento para ser compartilhado. :D

Beijão

Filipe Levi disse...

Etnografia do consumo serve, entre outras coisas, pra observar como acontece a vida dentro das C&A's da vida e propor redesigns do ambiente, do atendimento etc. para melhorar a experiência de compra das pessoas. Uma experiência que supera as expectativas fideliza, uma que frustra o consumidor diminui as vendas. Mesmo no Brasil, nem sempre o preço das coisas é o que importa no fim das contas pro consumidor. Design emocional! Para alguns exemplos, vide www.ideo.com/portfolio. Beijo!

Cynthia disse...

Eita :D

Adoreeeeeei o post. Tu escreves muito bem, menina :D

Bju :**

Paranóia Ululante disse...

Pot, levites e bellezita, obrigada pelos comentários! Espero que esse blog dê um caldo, pelo menos para me incentivar.

Espero que possa ajudar algumas pessoas também =D

êEêê

Paranóia Ululante disse...

Ah! Esqueci de comentar algo. Esses fatos são verdade mesmo, o sr. bombril falou essas palavras: sinalização, estudo para observar as pessoas, etc.

meu queixo caiu.